Por EloInsights
- CV in Brazil 2024 trouxe a São Paulo grandes corporações e startups inovadoras em busca de se conectar no ecossistema empreendedor.
- Sustentabilidade, transição energética e inteligência artificial foram alguns dos principais temas abordados neste ano.
- Gestores de fundos compartilharam suas experiências, e evento se encerrou com o já tradicional CV Awards, cuja pesquisa é realizada pela EloGroup.
Grandes players, fundos com apetite por investimento, startups em busca de escalar suas inovações para públicos cada vez maiores… O evento Corporate Venture in Brasil 2024, realizado em São Paulo, nos dias 29 e 30 de outubro, destacou o dinâmico cenário de Corporate Venture Capital (CVC) brasileiro, mostrando um aumento na atividade de investimentos e um foco em sustentabilidade. O evento foi uma realização da Apex Brasil e do GCV; a EloGroup é uma das apoiadoras institucionais.
Nas dezenas de palestras, painéis e entrevistas, destacou-se a tendência de corporações globais e empresas brasileiras se engajando ativamente com startups, aproveitando sua expertise e recursos para impulsionar a inovação em diversos setores. O evento ressaltou parcerias bem-sucedidas, tendências emergentes e os principais desafios enfrentados pelos CVCs no mercado brasileiro.
Um tema chave foi a convergência dos investimentos de CVC com os princípios Ambientais, Sociais e de Governança (ESG). Empresas como Scania Invest e Vale Ventures discutiram seus investimentos em soluções sustentáveis, que vão desde biocombustíveis e veículos elétricos até a descarbonização na indústria de mineração.
Outro tema que permeou as falas dos especialistas foi a Inteligência Artificial, e suas possibilidades de uso para destravar o potencial de negócios em múltiplas verticais.
A seguir, selecionamos algumas das principais falas do evento, que inspiram a olhar para todo o potencial de cooperação entre corporates e startups no ecossistema empreendedor.
Phoebe Wang: o compromisso do Amazon Climate Pledge Fund com a sustentabilidade
Phoebe Wang, representante do Amazon Climate Pledge Fund, foi uma das keynote speakers do evento. Em sua palestra, explicou o compromisso do fundo, que conta com um capital de US$ 2 bilhões, em áreas estratégicas como manufatura sustentável, buscando materiais com menor impacto ambiental, especialmente em embalagens. Outra área de investimento é a tecnologia de construção, onde o objetivo é apoiar soluções que reduzam a pegada ambiental em escritórios, centros de distribuição e data centers. Além disso, Wang mencionou o interesse em “aço verde” e cimento de baixo impacto, elementos que fazem parte do compromisso do fundo em construir um futuro mais sustentável para a infraestrutura global.
Por fim, Wang também enfatizou o foco em transportes de baixo carbono, destacando o incentivo ao uso de veículos elétricos e à adoção de logística inteligente e eficiente. Outras áreas prioritárias incluem alimentos e agricultura sustentáveis, economia circular e reciclagem de eletrônicos, todas alinhadas ao objetivo de promover práticas de reutilização e reciclagem de recursos.
Andrew Ng: agentes e perspectivas para a Inteligência Artificial
Andrew Ng, professor de Stanford, fundador da plataforma Coursera, e uma das principais vozes no campo da Inteligência Artificial e do Machine Learning, abordou temas fundamentais em torno do impacto da Inteligência Artificial nos negócios, durante sua fala como keynote speaker do CV in Brasil 2024.
Ng destacou a diferença entre aprendizado supervisionado e IA generativa, esclarecendo como essas tecnologias têm aplicabilidades distintas, e como a IA generativa acelerou o desenvolvimento de soluções em Inteligência Artificial, abrindo um leque de oportunidades para automação avançada e criação de valor em indústrias como saúde, finanças e educação, áreas que ele vê como de grande potencial no Brasil para o uso desse tipo de tecnologia.
Ainda nesse contexto, ele ressaltou que, atualmente, a camada de aplicações baseadas em Inteligência Artificial é um excelente ponto de partida para quem deseja inovar nesse campo. Em outras palavras, criar aplicações que ofereçam soluções baseadas em casos de uso específicos, aproveitando-se da capacidade dos Grandes Modelos de Linguagem de empresas como OpenAI, Google etc.
Por fim, Ng falou sobre o que ele considera ser um dos campos com maior potencial: Fluxos de Trabalho com Agentes. Em outras palavras, modelos de IA capazes de destrinchar problemas em diversas etapas de resolução para conseguir resultados mais assertivos.
Jessica Persson: inovação sustentável e o compromisso da Scania com CVC e com o Brasil
Jessica Persson, Head de Venture Capital e M&A da Scania Invest, braço global de venture capital da Scania, empresa sueca reconhecida mundialmente por fabricar caminhões pesados, ônibus e motores industriais e marítimos, participou do painel de abertura do evento, onde destacou a importância do mercado brasileiro para a empresa. Persson enfatizou o compromisso da empresa com o CVC, e que o Brasil é um mercado estratégico, representando atualmente 20% da participação de mercado de caminhões da Scania globalmente.
Jessica falou ainda sobre a necessidade de abordagens de sustentabilidade distintas em diferentes mercados, por exemplo: no Brasil, a prioridade está no uso de biocombustíveis, enquanto na Europa as soluções elétricas serão o foco. Ela destacou ainda que a Scania está empenhada em explorar novas tecnologias, como direção autônoma e armazenamento de energia avançado, para maximizar a eficiência de seus produtos.
Dong-Su Kim: a aproximação e oportunidades da LG Technology Ventures no Brasil
Dong-Su Kim, CEO da LG Technology Ventures, braço de venture capital da gigante sul-coreana, trouxe uma perspectiva global ao discutir o papel do CVC. Com sede no Vale do Silício, a LG Technology Ventures representa sete empresas diferentes do grupo LG e atua em uma ampla gama de áreas, incluindo tecnologia, materiais, dispositivos e biotecnologia. Kim compartilhou que, apesar de ainda não terem realizado investimentos diretos na América Latina, o evento representa uma oportunidade valiosa para explorar o mercado brasileiro e estabelecer conexões que possam facilitar futuras parcerias.
Kim destacou que a LG Technology Ventures busca maximizar tanto o impacto financeiro quanto o valor estratégico dos investimentos. Ele ressaltou que o Brasil possui setores atrativos, como fintech, aeroespacial, materiais e mineração, especialmente relevantes para a cadeia de suprimentos de baterias, um foco atual para a LG.
Durante sua fala, Kim também explicou a importância de uma abordagem gradual e estratégica ao entrar em novos mercados, mencionando que a LG Technology Ventures planeja iniciar com investimentos menores na América Latina. Segundo ele, o objetivo inicial é aprender mais sobre o ecossistema local, entender os desafios únicos do mercado e, a partir daí, construir parcerias sustentáveis e de longo prazo.
Ziheng Li: potencial brasileiro no mercado Fintech e o interesse da Saison Capital no ecossistema local
Ziheng Li, vice-presidente da Saison Capital, braço de venture capital da Credit Saison, uma das principais empresas financeiras do Japão, compartilhou insights sobre o interesse crescente da empresa no mercado brasileiro, especialmente de fintech, e sua abordagem para o Corporate Venture Capital. A Saison Capital já acumula mais de 100 investimentos diretos em empresas ao redor do mundo, e o Brasil agora se apresenta como uma oportunidade estratégica para o fundo. Li explicou que se mudou recentemente para São Paulo com o objetivo de se aproximar do mercado local e conhecer melhor suas nuances. Segundo ele, a Saison Capital está particularmente interessada em apoiar startups no estágio Série A, fase em que o capital é crucial para expansão e consolidação de negócios promissores.
Além disso, Li enfatizou o interesse da Saison Capital em promover um ecossistema de inovação colaborativo, criando parcerias e conexões que possam agregar valor tanto para as startups locais quanto para a própria empresa. Ele destacou que, ao investir no Brasil, a Saison Capital busca não apenas retorno financeiro, mas também a construção de uma rede de aprendizado e troca de conhecimento que beneficia todos os envolvidos. Li concluiu destacando que o compromisso da Saison com o Brasil é de longo prazo, com a expectativa de contribuir para o crescimento e fortalecimento do ecossistema de inovação brasileiro.
Marc Schueler: medicina de precisão, e a expansão da Zeiss para o software
Marc Schueler, Head de External Ventures da Zeiss Ventures, trouxe ao CV in Brasil 2024 uma visão sobre a abordagem de inovação da Zeiss, especialmente na área de tecnologia médica. Schueler explicou que a Zeiss, empresa líder alemã em tecnologia de semicondutores, soluções médicas e produtos de consumo, tem buscado expandir suas operações para além do hardware, explorando novas formas de utilizar software em seus produtos. Diagnóstico de alta precisão e aplicação de tecnologia para otimizar o tratamento médico são áreas de especial interesse.
Segundo Schueler, essa estratégia envolve investimentos diretos e parcerias com startups, e por isso o interesse no ecossistema empreendedor brasileiro.
Ele também mencionou os desafios que a Zeiss enfrenta ao operar em um novo mercado como o Brasil, incluindo acesso limitado a informações locais e a dificuldade de conhecer profundamente o cenário regional.
Paula Puzzi: parcerias com startups e a estratégia de investimentos da Suzano Ventures
Paula Puzzi, Corporate Venture Capital Manager da Suzano Ventures, destacou a importância da Suzano Ventures como braço de investimento estratégico da Suzano, líder global na indústria de papel e celulose. Paula explicou que a Suzano Ventures busca utilizar seus ativos naturais, como as extensas fazendas de eucalipto, para desenvolver materiais avançados e sustentáveis, diversificando o portfólio da empresa e impulsionando práticas inovadoras na economia circular.
Ela abordou também o modelo colaborativo da Suzano Ventures, que inclui parcerias com universidades e o próprio setor de Pesquisa e Desenvolvimento (R&D) da Suzano. As startups investidas não apenas recebem suporte financeiro, mas também têm acesso a esses recursos de pesquisa e desenvolvimento, essenciais para escalar suas operações e inovar. Paula destacou o caso de sucesso com a Alltrope Energy, uma startup focada em baterias de lítio e carregamento rápido, que, em parceria com a Suzano, desenvolve baterias derivadas de material vegetal.
Paula falou ainda sobre a abordagem estruturada de investimentos da Suzano Ventures, o rigor de suas due diligences, e a importância de uma gestão de portfólio alinhada com os objetivos estratégicos da corporate.
Transporte, sustentabilidade, agronegócio... Os pitchs de startups no CV in Brasil 2024
Outro ponto marcante do evento são os pitchs de startups para potenciais investidores. Os pitchs são feitos em rodadas de poucos minutos, com perguntas de entrevistadores selecionados na sequência. Neste ano, diversas startups apresentaram pitchs com soluções inovadoras voltadas para sustentabilidade, tecnologia e infraestrutura.
David Noronha, da Energy Source, destacou uma plataforma para descarte e reciclagem de baterias de lítio, focando na extração de materiais críticos como cobalto, lítio e manganês, além do reparo de baterias. VoltBras, representada por Bernardo Durieux, apresentou uma estrutura para recarga de veículos elétricos que visa suprir a demanda crescente de pontos de carregamento e melhorar a gestão desse processo para operadores e motoristas.
A startup Aeroriver apresentou uma solução com potencial revolucionário de transporte em rios: um barco de alta velocidade que “voa” a uma altura de 2 metros acima da água, oferecendo uma alternativa ágil e inovadora para navegação em regiões ribeirinhas. Na área de energia, Igor Zanella e Guilherme Tremiliosi, da Protium e Xield, respectivamente, discutiram tecnologias para produção de hidrogênio, sendo que a Xield usa etanol como matéria-prima, propondo uma solução com menor dependência de combustíveis fósseis.
O setor agrícola também teve destaque com a startup Nagro, de Gustavo Alves, que oferece um aplicativo para facilitar o acesso ao crédito rural para fazendeiros, enquanto a Yak, de João Ozorio, apresentou tratores elétricos com tecnologia própria, prometendo uma economia significativa em comparação ao diesel.
MaisMu e BAT Brasil: exemplo de sinergia entre startups e corporates
A parceria entre a startup brasileira MaisMu e a BAT Brasil, braço da British American Tobacco (BAT), foi um dos casos de sucesso destacados no CV in Brasil 2024. MaisMu, conhecida por desenvolver produtos de alimentação saudável e suplementos, firmou uma colaboração estratégica com a BAT Brasil por meio da Btomorrow Ventures, o braço de Corporate Venture Capital da companhia. Esse investimento faz parte da estratégia global da BAT de diversificar seu portfólio, expandindo para áreas além do tabaco e apostando em novos produtos de consumo.
A colaboração com a BAT permitiu à MaisMu alcançar uma expansão de mercado significativa. Através de um acordo de distribuição com a BAT Brasil, a startup conseguiu expandir sua rede de pontos de venda em 40 mil pontos em apenas seis meses. Em comparação, anteriormente, a MaisMu havia alcançado 10 mil pontos de venda em dez anos por meio de seus próprios esforços. Além do suporte de distribuição, a BAT ofereceu acesso a recursos estratégicos e expertise para escalar o negócio, permitindo que a MaisMu ganhasse visibilidade e competitividade no setor de alimentos saudáveis de forma acelerada.
A parceria entre a BAT e a MaisMu é um exemplo prático de como uma grande corporação e uma startup podem combinar suas forças para formar um “carro híbrido”, como descrito por Otto Guarnieri, cofundador da MaisMu. Ele comparou a corporação a um carro a gasolina, mais lento para acelerar, mas com grande alcance, enquanto a startup é como um carro elétrico, que acelera rapidamente, mas com limitações de escala.
Vale Ventures: busca por sustentabilidade na mineração
Bruno Arcadier, Head da Vale Ventures, participou de um painel sobre inovações no setor de energia, alavancado pelo capital de corporates. Ele destacou a importância do Corporate Venture Capital para a Vale, uma das maiores mineradoras globais. Ele enfatizou que a Vale Ventures, com um fundo de US$ 100 milhões, busca investir em startups que desenvolvam tecnologias disruptivas alinhadas aos objetivos estratégicos da empresa. As áreas de interesse incluem descarbonização, mineração circular, metais para a transição energética e inovações que transformem as operações de mineração.
Arcadier ressaltou que a Vale Ventures já realizou investimentos significativos, como na startup Mantel, que desenvolve tecnologia inovadora de captura de carbono, e na Allonnia, focada em biotecnologia para soluções sustentáveis na mineração. Ele explicou que essas parcerias visam não apenas retorno financeiro, mas também agregar valor estratégico, promovendo práticas mais sustentáveis e eficientes no setor de mineração.
Tendências tecnológicas para solucionar grandes desafios
Em um painel sobre tendências tecnológicas, Tamara Steffens, diretora-gerente da Thomson Reuters Ventures, expressou o interesse em startups brasileiras capazes de utilizar inteligência artificial para enfrentar os desafios da alta complexidade tributária do Brasil. Ela destacou a relevância da IA para simplificar e solucionar questões fiscais, trazendo mais eficiência e conformidade ao setor.
Jonas Ide, gerente de investimentos da Evonik Venture Capital, focou em oportunidades na transição energética e na adoção de novas fontes renováveis. Ele apontou os desafios específicos das deep techs, que demandam longos períodos de desenvolvimento, apoio governamental e elevados investimentos financeiros, enfatizando a importância de parcerias e investimentos estratégicos para viabilizar essas inovações.
Sunidh Jani, diretor de desenvolvimento de negócios e investimentos de venture na Eaton Ventures, discutiu a interoperabilidade energética e formas distribuídas de energia. Ele explorou temas como infraestrutura de recarga, fontes alternativas de energia, fusão nuclear e computação quântica. Jani enfatizou a necessidade de desenvolver tecnologias que integrem diferentes sistemas energéticos, promovendo eficiência e sustentabilidade no setor.
Banco BV e Ambev: o “tempo da inovação” e desafios de governança
Em outro painel, sobre aprendizados de CVCs, Jimmy Lui, Superintendente de Inovação e Corporate Venture Capital no Banco BV, discutiu a importância de disciplinar o tempo e a cultura de inovação nas empresas. Ele destacou que o “relógio da inovação” é diferente do ritmo operacional tradicional das empresas, o que exige uma comunicação interna eficaz para que todos entendam essa diferença e os ciclos mais longos de desenvolvimento. Lui também ressaltou a volatilidade inerente ao Corporate Venture Capital e a necessidade de desenvolver teses de investimento institucionais robustas e resilientes para enfrentar os desafios desse tipo de investimento.
Luciana Sater, Head de Investimentos na Ambev, abordou a importância da estruturação de parcerias e investimentos para inovação. Ela destacou que para empresas no início de sua jornada de CVC, é fundamental se aproximar do ecossistema e construir um repertório robusto de conhecimento. Luciana também mencionou que as estratégias de Corporate Venture Capital diferem significativamente das estratégias de fusões e aquisições (M&A), sendo necessário um alinhamento estratégico para que as teses de investimento estejam bem definidas. Para isso, ela sugeriu a criação de comitês de investimentos, reforçando a governança e o direcionamento dos investimentos para que a inovação tenha impacto alinhado com os objetivos da organização.
Encerramento: Corporate Venture in Brasil Awards
O CV in Brasil 2024 se encerrou com a já tradicional entrega dos prêmios Corporate Venture in Brazil Awards. Jaime Frenkel, sócio da EloGroup, subiu ao palco para entregar um dos prêmios e ressaltou a contribuição da empresa na pesquisa que fundamenta a premiação. Frenkel também enfatizou o papel essencial de iniciativas como essa para promover o crescimento, o amadurecimento e a expansão do mercado de Corporate Venture Capital no Brasil.
Os vencedores da premiação nas quatro categorias foram os seguintes:
CVC mais ativo (número de deals)
- Unifique Tech Ventures
Maior investimento
- Banco do Brasil (BB Ventures)
Maior desinvestimento (exit)
- BTG Pactual (boostlab) – Celcoin
- Evertec + Sinqia (Torq Ventures) – Celcoin
Maior anúncio de captação de fundos
- Eurofarma Laboratórios S.A. (Eurofarma Ventures) – US$ 100 milhões