100 Startups to Watch: os rumos do varejo brasileiro na era das retailtechs com IA

Por Eduardo Bentivoglio

  • Em debate da série 100 Startups to Watch, da PEGN, especialistas discutiram caminhos do varejo sob o impacto da IA, das fintechs e da personalização digital.
  • Participante do encontro, Jaime Frenkel, sócio da EloGroup, destacou o papel das startups e a necessidade de “reimaginar as relações de consumo” para um ecossistema moldado por agentes de IA.
  • Construção de vínculos fortes por meio da fidelização, inovação inclusiva e sustentável, e protagonismo das fintechs para ampliar crédito e internacionalização das PMEs também foram destacados como práticas essenciais. 

O varejo brasileiro atravessa um momento de transformação acelerada. Digitalização, inteligência artificial (IA) e fintechs vêm remodelando a experiência de consumo e a operação das empresas. O varejo brasileiro deve investir 71% a mais em tecnologia até o fim de 2025, segundo a Zebra Technologies, em linha com os dados globais, já que, de acordo com o Connected Shoppers Report da Salesforce, 73% de todo o setor planeja aumentar o investimento em IA em 2025.

Esses temas foram discutidos na live “Conectar, Engajar, Monetizar”, realizada em 6 de outubro como parte da série 100 Startups to Watch, promovida por Pequenas Empresas & Grandes Negócios. Participaram do debate Ingrid Barth (CEO da Pilotin, plataforma tecnológica baseada em Open Finance e Inteligência de Dados), Nara Iachan (CMO da Loyalme, empresa especializada em tecnologia e soluções de fidelização), Paulo Rogério Nunes (fundador do Vale do Dendê, organização social que tem como objetivo fomentar ecossistemas de empreendedorismo, inovação e criatividade) e Jaime Frenkel (sócio da EloGroup). O encontro trouxe insights sobre como tecnologia, comportamento e propósito estão redesenhando o varejo. 

Transformação digital e novas jornadas de consumo

Para Jaime Frenkel, a transformação do varejo brasileiro está ligada a fatores culturais e tecnológicos únicos. “Nossa população é extremamente engajada nas redes, e a regulação para meios de pagamento é avançada. O PIX, por exemplo, é uma inovação incrível”, destacou. Segundo ele, embora o Brasil ainda tenha menor disponibilidade de capital comparado a mercados desenvolvidos, casos como o Nubank demonstram que é possível criar gigantes a partir do cenário local. 

O executivo projeta que a IA terá um papel tão disruptivo quanto a internet. “Quando o Buscapé surgiu, startups passaram a intermediar a relação entre consumidor e marcas, facilitando comparação e escolha. Hoje, as plataformas já integram marketplaces. A próxima virada será com a IA, por meio de agentes inteligentes que vão apoiar decisões de compra e personalizar experiências em todos os pontos da jornada.” 

Ingrid Barth complementou a perspectiva. “Soluções típicas de fintechs estão potencializando o varejo. A tecnologia permite oferecer crédito e serviços financeiros de forma mais sofisticada, ampliando o protagonismo das pequenas e médias empresas”. A CEO da Pilotin ressaltou que a IA também acelera a internacionalização. “Escalar negócios para além do Brasil ficou mais fácil. A tecnologia derruba fronteiras”.

Fidelização e personalização como estratégia

A construção de vínculos sólidos com clientes é outro tema central. Nara Iachan, da Loyalme, reforçou que reter clientes é mais econômico do que conquistar novos. “As soluções de fidelização baseadas em dados permitem conhecer o comportamento do consumidor e personalizar experiências. O cliente busca pertencimento e valor real nas interações com a marca”, explicou. Entre as ferramentas que impulsionam o engajamento, Nara destacou a gamificação como elemento de simplificação da experiência de compra.

Paulo Rogério Nunes, do Vale do Dendê, acrescentou que a fidelização deve estar ligada a experiências consistentes e inclusivas. “Personalização exige entender a diversidade do público em detalhes. As marcas precisam construir com, e não apenas para, o cliente.”

Inovação brasileira com impacto global

Paulo Rogério enfatizou que a inovação não é exclusividade dos centros globais. “O mundo se parece mais com São Paulo e o Brasil do que com Londres ou Nova Iorque. Podemos beber de referências internacionais, mas também criar e exportar inovações nascidas aqui.” O fundador do Vale do Dendê ressaltou que sustentabilidade e diversidade precisam estar no centro do negócio. “O varejo do futuro será inclusivo e regenerativo. Tudo é ponto de venda, sejam eventos, viagens ou a casa do consumidor, e isso exige um omnichannel fluido e integrado.”

Jaime Frenkel também vê oportunidade para colaboração entre startups e grandes empresas, como a recente parceria firmada entre a Samsung e a Open AI para explorar novas experiências. “Esse tipo de colaboração vai se tornar cada vez mais comum, incluindo PMEs.”

Tecnologia e inteligência artificial na prática

A IA promete mudar radicalmente como marcas se relacionam com clientes. Frenkel projeta que, em poucos anos, agentes de IA serão commodities, auxiliando consumidores em todas as etapas da compra. “Campanhas de marketing serão mais assertivas, com IA capaz de ativar influenciadores de perfis distintos, aumentando a presença das marcas de forma quase orgânica”, disse. 

Ingrid Barth reforçou que a tecnologia não é um fim, mas uma ferramenta para resolver problemas históricos e otimizar operações. “Soluções de backoffice, internacionalização e análise de dados vão gerar valor real para empresas e consumidores.”

Paulo Rogério destacou ainda o papel da oralidade. “Tecnologia conversacional, e de voz de uma maneira geral, permite a inclusão de pessoas com diferentes formações, incluindo quem tem alguma dificuldade com interfaces digitais tradicionais.”

Fintechs e o protagonismo das PMEs

O debate também abordou o papel das fintechs na expansão do varejo. Ingrid Barth afirmou que o setor de PMEs depende fortemente de crédito e que a tecnologia financeira oferece novas oportunidades de crescimento. “O crediário evoluiu para ofertas sofisticadas de serviços financeiros. A integração entre crédito e consumo abre caminhos inéditos”, explicou.

“A IA permite que pequenas e médias empresas sejam mais competitivas, ajudando a ativar clientes e a criar experiências personalizadas que antes estavam restritas a grandes corporações”, complementou Jaime.

Tendências que vão moldar o varejo

Durante o debate, os especialistas apontaram algumas tendências estratégicas para os próximos anos: 

  • Hiperpersonalização real, impulsionada por IA. 
  • Omnichannel fluido, com experiências integradas em todos os contextos. 
  • Automação de backoffice e otimização operacional. 
  • Uso estratégico de dados para fidelização e engajamento. 
  • Sustentabilidade e diversidade como diferenciais de marca. 
  • Inclusão digital e oralidade, expandindo o acesso e a participação de novos consumidores. 
 

Dados de mercado reforçam essas projeções. 52% dos consumidores já usam IA para auxiliar compras, de acordo com a Adyen, e 94% das empresas já declaram que a IA ajudou a reduzir custos operacionais, segundo o report State of AI in Retail and CPG: 2025 Trends da Nvidia. O ecossistema mostra maturidade crescente e aponta para uma década de convergência entre tecnologia, propósito e experiência. 

Conclusão

O ponto de inflexão do varejo, impulsionado pela digitalização, pela inteligência artificial e pelo protagonismo das startups, exige que empresas repensem suas relações com os consumidores, construindo vínculos fortes por meio da fidelização, da personalização e da inclusão digital, ao mesmo tempo em que incorporam práticas sustentáveis e diversificadas. 

Para Jaime Frenkel, a transformação está na integração entre tecnologia e experiência do cliente. “Quem conseguir transformar essa relação em valor real para o cliente será relevante, e a IA já é a ferramenta capaz de sustentar esse novo ecossistema, mas as empresas precisam escolher bem onde investir e como se destacar.” 

Segundo ele, as oportunidades estão abertas para todos os portes de empresa, desde grandes corporações até pequenas e médias que saibam usar tecnologia de forma estratégica. “O desafio é focar em entregas excepcionais, criar experiências que realmente importam e aproveitar a IA para potencializar cada interação com o consumidor”, concluiu. 

Assista, abaixo, a íntegra da Live “Conectar, Engajar, Monetizar” da PEGN:

EDUARDO BENTIVOGLIO é Redator Sênior e Editor de EloInsights

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