100 Startups to Watch: diálogos sobre inovação no setor elétrico brasileiro 

Por Marcus Couto

  • Evento “Energia em Foco” foi realizado no contexto das inscrições abertas para a oitava edição do 100 Startups to Watch.   
  • Bruno Cabral, sócio da EloGroup, participou ao lado de outros especialistas do ecossistema de inovação em energia.  
  • Durante a conversa, foi discutido o papel das startups na evolução do setor energético brasileiro, oportunidades, desafios e o amadurecimento do mercado. 

O Brasil já é um gigante energético com forte ênfase em matriz renovável, mas ainda apresenta valiosas oportunidades de expansão em segmentos como a geração fotovoltaica distribuída, e numa discussão sobre aplicação da lente de dados, tecnologia e inteligência digital para ampliar a geração de valor para toda a cadeia. E esse é um prato cheio para startups, como ficou claro no diálogo online promovido por Pequenas Empresas & Grandes Negócios, no contexto das inscrições abertas para a oitava edição do 100 Startups to Watch.   

A premiação, realizada por Pequenas Empresas & Grandes Negócios (PEGN), Época Negócios e Valor Econômico, em parceria com a EloGroup e a Innovc, aponta as empresas mais promissores nos campos do empreendedorismo, da tecnologia e da inovação dentro dos principais setores econômicos brasileiros. 

Segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), 88,2% da demanda por eletricidade no Brasil foi suprida em 2024 por fontes renováveis, com energia eólica e solar representando 24% do total. Geração distribuída solar, de micro e minigeração, alcançou 5,6% da produção total de eletricidade no Brasil.  

De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), o país bateu a marca de 40 GW de capacidade instalada em energia solar no segmento de geração distribuída (GD). Em julho de 2024, eram 30 GW. 

Esse panorama (de um recorte específico da amplitude desse mercado) mostra o apetite por inovação no setor elétrico brasileiro, num contexto em que o Brasil está ainda no holofote global por conta da realização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), no Pará, em novembro de 2025.  

O papel das startups na transição energética

“Startups não são apenas bem-vindas. São indispensáveis”, diz Bruno Cabral, sócio da EloGroup. “Elas têm capacidade de explorar possibilidades onde outras empresas veem apenas risco. Testam novos modelos de forma ágil, disruptiva e aceleram discussões emergentes, como a de geração distribuída, microgrids, IoT, hidrogênio verde etc. Vemos muitos exemplos promissores, de plataformas de rastreabilidade de carbono, de bateria como serviço… Sem as startups, debater esses temas seria um grande desafio. Por isso, elas são fundamentais.” 

Hudson Mendonça, fundador e CEO do Energy Summit, reforça essa visão: “Hoje existe o consenso de que o futuro da energia e da transição energética são os 4 Ds: descarbonização, descentralização, digitalização e democratização. Então este é um ambiente muito propício para startups. São 2 trilhões de dólares investidos por ano no setor de energia e não há uma completa clareza sobre o caminho que vai prevalecer nos próximos 20 anos. Isso é muito propício para esse tipo de empresa.” 

Luíza Cohen, gerente de inovação corporativa na Neoenergia, sublinha os desafios apresentados pelas mudanças climáticas, e como a inovação pode representar uma resposta a esses riscos que se abatem sobre a malha brasileira.  

“O Brasil possui uma vantagem competitiva natural em relação à nossa matriz energética”, diz Luíza. “Mas as mudanças climáticas ainda representam um importante desafio. Enfrentamos ondas de calor e secas prolongadas que afetam a produção de energia. A modernização, expansão e digitalização das redes elétricas são essenciais para garantir robustez e sustentabilidade. Precisamos investir em inovação. Não tem como falar de transição energética sem falar de startup.” 

Maurício Queiroz, da Tidalwatt, startup que desenvolveu uma tecnologia proprietária de produção de energia a partir do movimento das correntes marítimas, e que foi uma das selecionadas do 100 Startups to Watch, falou sobre a amplitude de escopo de atuação das startups no ecossistema energético. “As startups têm a capacidade de solucionar tanto problemas antigos quanto novos”, diz Queiroz. “O Brasil não precisa se limitar a soluções antigas se há formas inovadoras de fazer isso. Existem soluções inovadoras para nossos problemas. Isso é trazido pelas startups. Nós precisamos disso.” 

Relação com grandes corporações e novos meios de experimentar

Bruno Cabral, da EloGroup, aprofundou-se ainda nas transformações observadas por ele na relação entre grandes corporações e startups:Temos visto uma mudança de comportamento nas organizações”, diz Cabral. “Grandes players têm deixado o papel de espectadores para se tonarem atores ativos nesse ecossistema de inovação de energia. Para ilustrar, tipicamente, antes você via o relacionamento entre grandes empresas e startups acontecendo de forma muito pontual. Hoje, são criados hubs internos, aceleradoras, programas de inovação aberta, estruturas para mapear tecnologias de alto impacto dentro de seus ecossistemas. Com critérios bem definidos, trilhas de validação de startups, funis etc.”  

Cabral trouxe ainda à tona a questão da evolução dos veículos de investimento e do modo de experimentar. “Antigamente, havia um modelo muito engessado. Temos visto estilos de investimento mais flexíveis, como o CVC, criação de venture capital corporativo, ou investimentos minoritários para criar sinergia. Passa a haver um ambiente propício para testar soluções e verificar se elas fazem sentido em ambiente escalável”, diz Cabral. “Outra mudança relevante é priorizar pilotos ‘ponta a ponta’, estruturados, que incluem integração regulatória desde o início da experimentação, para garantir que haja potencial de escala. Não deixando, por exemplo, questões jurídicas e regulatórias apenas para o final. Há uma mudança na forma de experimentar.” 

Assista, abaixo, a íntegra da gravação do evento “Energia em Foco”: 

MARCUS COUTO é Redator Sênior e Editor de EloInsights 

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