Por EloInsights
- Diálogo promovido pela lista 100 Startups to Watch contou com especialistas em IA e líderes de startups.
- O principal tópico girou em torno da aplicação de inteligência artificial para alavancar novos modelos de negócio.
- Consenso é de que na maioria dos casos a IA deve ser olhada hoje como um diferencial competitivo essencial.
O cenário da tecnologia e da inovação foi profundamente remodelado nos últimos anos com a rápida popularização da Inteligência Artificial, especialmente com o surgimento da IA Generativa. No campo da inovação disruptiva, essa transformação traz à tona uma pergunta crucial para as startups brasileiras: integrar IA ao seu negócio ainda é uma escolha, ou tornou-se uma obrigação inegociável para manter a competitividade?
Na abertura do diálogo online “IA em ação”, promovido por Pequenas Empresas & Grandes Negócios, no contexto da oitava edição do 100 Startups to Watch, especialistas do setor e líderes de startups sugerem uma mudança decisiva: na maioria dos casos, a adoção da IA deixou de ser opcional e passou a ser um requisito essencial para sobrevivência e crescimento, ainda que cada negócio tenha que encontrar seu próprio caminho de implementação, evitando a armadilha da “adoção pelo hype”.
Participaram do webinar André Franco, sócio da EloGroup, Eduardo Peixoto, CEO do CESAR, Fernanda Clarkson, cofundadora da SuperFrete, e Helson Santos, da Logstore, com mediação da repórter Rebecca Silva.
A lista 100 Startups to Watch é realizada por Pequenas Empresas & Grandes Negócios (PEGN), Época Negócios e Valor Econômico, em parceria com a EloGroup e a Innovc, e aponta as empresas mais promissores nos campos do empreendedorismo, da tecnologia e da inovação dentro dos principais setores econômicos brasileiros.
IA como condição de competitividade e sobrevivência
A principal questão discutida foi se a IA ainda é uma escolha para startups ou se se tornou uma obrigação. O consenso foi que, para eficiência interna e processos operacionais, o uso de IA está se tornando cada vez mais uma questão de sobrevivência, comparável, segundo André Franco, a correr uma maratona com tênis de alto desempenho versus tênis furados. Já a incorporação de IA no produto ou serviço fornecido pela startup é sim uma questão de escolha a depender do seu escopo de atuação.
A IA é vista como fundamental para aumentar a eficiência operacional e a produtividade nas startups. Helson Santos cita o “aprendizado paralelo”, onde, por exemplo, um desenvolvedor front-end pode adquirir habilidades de design com a ajuda da IA, resultando em um desenvolvimento mais eficiente e econômico. Isso ajuda a reduzir custos operacionais, o que é vital para negócios de SaaS (Software como Serviço) provarem sua lucratividade e alcançarem o “scaling” (crescimento com a mesma equipe), em vez do “escalonamento” (aumento de equipe proporcional ao aumento das vendas).
Desenvolvimento de produto com IA e soluções inéditas
A IA traz mais eficiência ao ciclo de desenvolvimento, desde a compreensão de requisitos até os testes. O conceito de “vibe coding”, no qual códigos são escritos com ferramentas de IA, é visto como um movimento sem volta. A IA permite acelerar o lançamento de novas funcionalidades, garantindo desenvolvimento com intencionalidade, estratégia e foco. Além disso, torna viáveis soluções antes consideradas impossíveis, como um tradutor de Libras em tempo real ou um batom inteligente para pessoas com deficiências motoras ou visuais, melhorando significativamente a experiência do usuário, segundo Eduardo Peixoto.
Foi enfatizado que o primeiro passo para adoção de IA não é tecnológico, mas humano. As habilidades-chave incluem curiosidade, criatividade e disposição para experimentar sem medo de errar, preferencialmente dentro de um ambiente controlado (sandbox). Os membros da equipe devem aprender rapidamente e estar dispostos a “esquecer o que aprenderam ontem para começar algo novo agora”. É fundamental trabalhar o mindset da equipe para abraçar a IA como uma ferramenta que potencializa soluções e crescimento pessoal, superando a percepção de que ela representa uma ameaça. A SuperFrete, por exemplo, investe fortemente em capacitação e desenvolvimento para promover essa mudança cultural.
O consenso é que a IA não irá substituir cofundadores ou tornar colaboradores descartáveis. Em vez disso, ela atua como um “assistente qualificado” ou um “copiloto”. Grandes empresas que tentaram abordagens radicais, como substituir desenvolvedores por agentes de IA, acabaram voltando atrás, indicando que esse não é o caminho eficaz. O objetivo é ampliar as capacidades humanas, oferecendo uma diferença competitiva e sobrevida estratégica para startups em suas fases críticas.
Impacto da IA nas vendas
A IA atua como copiloto para vendedores, ajudando a destravar vendas e oferecer hiperpersonalização ao cliente. Ela também reduz a necessidade de treinamentos extensos devido à alta rotatividade, melhora o direcionamento de ofertas e recupera receitas potencialmente perdidas por falhas de compra, sugerindo trocas ou upgrades. Além disso, cria novos caminhos para treinar equipes de vendas, mapeando falhas e oferecendo coaching direcionado onde o vendedor mais precisa.
A IA pode assumir o primeiro contato com o cliente, atuando como um “concierge” digital, reduzindo o tempo de espera e lidando com dúvidas comuns (como “status do pedido”). Pode até informar proativamente sobre atrasos, o que pode gerar maior satisfação (NPS) do que uma experiência tecnicamente perfeita, mas sem comunicação. Como equipes humanas não conseguem atender todos individualmente em escala, a IA também permite mais personalização e assertividade na comunicação com o público-alvo.
Considerações sobre segurança de dados
Apesar dos benefícios, é essencial considerar os riscos de segurança de dados. É preciso entender os riscos de colocar dados ultra confidenciais em sistemas de IA. A experimentação com IA deve ocorrer em um ambiente controlado, para mitigar riscos e evitar vazamentos. A conformidade com leis de proteção de dados, como a LGPD, é crucial, especialmente quando se trata de dados de usuários. Garantir que as fontes de dados estejam sempre atualizadas e acessíveis também é vital para que os modelos de IA não fiquem defasados.
Um ponto-chave discutido foi a importância evitar o “modismo” ou hype em torno da IA. O foco principal de uma startup deve ser sempre o problema que ela está resolvendo, e a tecnologia deve ser apenas o meio para isso. É fundamental avaliar se a IA realmente faz sentido na solução e se a equipe está preparada para sua adoção.
Colaboração com grandes empresas e oportunidades para startups
Há uma abertura crescente por parte de grandes empresas para colaborar com startups que ofereçam soluções em IA. Elas buscam soluções especializadas, especialmente as que conseguem incorporar rapidamente os avanços das big techs, como personalização de ofertas em tempo real. Há também espaço para startups na “cozinha analítica”, preparando e estruturando dados de qualidade para uso em IA e se integrando aos ecossistemas de dados corporativos.
A discussão mostrou que a IA é um poderoso catalisador que está transformando a maneira como startups operam, desenvolvem produtos, se relacionam com clientes e até mesmo como se estruturam internamente. Não é uma varinha mágica, mas uma ferramenta sofisticada que, quando usada com intenção estratégica e foco nos problemas reais, amplifica a engenhosidade humana. Como um chef experiente que usa tecnologia de ponta para criar pratos inovadores, a tecnologia não substitui sua criatividade, apenas potencializa seu alcance, desde que os ingredientes (dados, equipe, ética) estejam bem preparados.