Future proof: metodologia para otimizar modelo operacional no mercado de óleo e gás

Por Thiago Fukamati, Alvaro Oliveira, Caio Moura, Lucas Fonseca e Luiz Polozzi

  • Artigo apresenta abordagem Future Proof Operations para empresas do setor de gás, além do contexto de mudanças de mercado.  
  • Em cenário mais complexo, modelos operacionais robustos, ainda que flexíveis, e modelos de riscos eficazes são essenciais para empresas gerenciarem desafios presentes e futuros. 
  • Arquitetura tecnológica deve estar alinhada ao posicionamento estratégico das organizações, permitindo uma adaptação ágil às mudanças regulatórias e comerciais. 

O mercado de gás no Brasil tem mudado. A partir de um conjunto de iniciativas, como a Nova Lei do Gás e acordos como o TCC CADE-Petrobras, além de medidas estaduais, diversas oportunidades surgem para toda cadeia do gás natural. Simultaneamente, o setor vivencia um grande desafio: a diferença nas regulamentações entre os governos federal e estadual, que afeta todo o mercado, incluindo comercializadoras, transportadoras e distribuidoras. 

Além disso, novas formas de suprimento e consumo têm sido exploradas, o que impacta e transforma a maneira como contratos são estabelecidos. Diante dessa realidade, um dos principais desafios tecnológicos é gerir essas mudanças de forma rápida, com uma arquitetura robusta, integrada e segura, respeitando os limites orçamentários. 

É neste contexto que nasce a metodologia “Future Proof Operations”. Essa abordagem, criada pela EloGroup, estabelece um modelo operacional para solucionar precisamente essas lacunas. Vamos detalhá-la neste artigo, além de apresentar um caso prático de uso.  

O que é a metodologia Future Proof Operations?

Inspirado no modelo “Future Back”, detalhado no livro “Lead from the Future”, o modelo Future Proof incentiva as empresas a definirem uma visão clara para o futuro, identificar tendências de mercado e avaliar o quão preparadas estão para enfrentar os desafios que virão. 

Especificamente para o setor de gás, a metodologia pode ser dividida em três ciclos principais: Estratégia, Transformação e Entrega. 

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ESTRATÉGIA

1 – Definição do Posicionamento Estratégico:  

Estabelecer um posicionamento estratégico claro e bem definido é crucial. Esta análise inicial gera insights que ajudarão a definir a proposta de valor da empresa, criando uma base sólida para as etapas seguintes. Por exemplo, para uma comercializadora de gás natural, isso envolve definir quais serão os mercados-alvo estratégicos, o tamanho do portfólio, além de estabelecer políticas de risco e crédito, entre outras. 

2 – Exploração dos Casos de Uso:  

Esta fase envolve uma análise detalhada dos cenários contratuais e regulatórios que influenciam diretamente as operações. Aqui, é crucial identificar os fatores que adicionam complexidade à proposta de valor do negócio. Por exemplo, esses fatores podem incluir a origem do gás natural, bem como as várias opções de logística de entrega. Também é necessário considerar o perfil dos clientes atendidos, suas especificidades contratuais e os instrumentos de gestão de riscos empregados.

A análise dos casos de uso fornece insights valiosos sobre as oportunidades e desafios operacionais, orientando a definição de modelos operacionais e comerciais a serem discutidos na próxima fase. Esta etapa também atua como um limitador de escopo, assegurando que todos os casos de uso sejam plenamente suportados pelas operações da empresa. 

TRANSFORMAÇÃO

Em seguida, é necessário que o posicionamento estratégico e os casos de uso sejam transformados em modelos que sustentarão as operações da organização. Inicia-se aqui o ciclo de Transformação: 

3 – Desenho do Modelo Operacional:  

Na fase de Transformação são estabelecidos processos, alocação de pessoas e configuração da estrutura organizacional que dará suporte à estratégia definida anteriormente, a partir de princípios de gestão por processos e de design organizacional. O modelo operacional desenvolvido nesta etapa será responsável por apoiar todos os processos vinculados aos casos de uso priorizados, baseando-se na visão de futuro da organização.  

4 – Desenho do Modelo de Riscos:  

Este processo abrange desde a identificação e gestão da exposição de riscos atual até a definição da exposição alvo desejada. Envolve elaborar possíveis planos de ação, utilizar métodos analíticos para avaliar o risco potencial, e implementar mecanismos para alinhar a exposição atual com a alvo. Também inclui o monitoramento das posições e das tendências do mercado, além de avaliar o desempenho das estratégias de negociação. Esta etapa é fundamental para que a organização possa gerenciar proativamente os riscos e capitalizar as oportunidades no complexo setor de gás. 

5 – Avaliação do Modelo Comercial:  

Paralelamente ao modelo de riscos, a análise comercial contempla a modelagem e simulação das diversas condições comerciais que afetam a comercializadora, transportadora ou distribuidora de gás natural. Isso inclui desde a definição das fórmulas para calcular as condições comerciais e penalidades dos contratos até a simulação de parâmetros operacionais, como imprevisibilidades, e parâmetros financeiros. 

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6 – Construção da Arquitetura das Soluções Tecnológicas e Analíticas:  

Segundo o modelo de Pace Layered Architecture desenvolvido pela Gartner, a arquitetura tecnológica deve ser modular e dividida em três camadas com velocidades de modificação distintas: sistemas de registro (mudanças lentas, a cada 7 anos ou mais), sistemas de diferenciação (mudanças a cada 1 ou 2 anos) e sistemas de inovação (mudanças rápidas, a cada 2 a 3 meses). As soluções tecnológicas planejadas para apoiar as fases anteriores do Future Proof Operations provavelmente se encaixarão na camada de sistemas de diferenciação. Esta arquitetura permite robustez para apoiar a operação diária, enquanto mantém a flexibilidade para adaptar-se a novas demandas regulatórias e comerciais. 

7 – Especificação e Desenvolvimento das Soluções Tecnológicas e Analíticas:  

Finalmente, as soluções tecnológicas e analíticas são especificadas e desenvolvidas. Essas soluções, sejam transitórias ou definitivas, são essenciais para suportar a operacionalização dos casos de uso identificados e fornecer a infraestrutura necessária para a execução da estratégia organizacional. 

Em resumo, essa abordagem de sete etapas oferece um roteiro estratégico e operacional detalhado para os players do setor de gás. Cada etapa desempenha um papel crucial na preparação das organizações para enfrentar a complexidade crescente do setor, permitindo que não apenas naveguem com sucesso no ambiente volátil e complexo em que estão inseridas, mas também prosperem em meio às mudanças contínuas. 

A seguir, explicaremos como essas etapas podem se desdobrar na prática. 

Um caso prático de aplicação da metodologia Future Proof

Utilizando as comercializadoras de gás natural como exemplo prático, a abordagem estratégica do Future Proof Operations começa com a primeira etapa, focando na compreensão da visão de futuro da operação. Essa visão orienta a modelagem dos casos de uso mais alinhados com a estratégia de suprimento da comercializadora, levando em conta os direcionadores identificados anteriormente.  

No caso de uma comercializadora fictícia, os diferentes direcionadores da operação podem incluir: Originação e suprimento (gás natural nacional ou biometano, por exemplo), Logística e transporte de gás (incluindo modelo de carregamento) e Distribuição e consumo (tipo de cliente e modelo de consumo).  

Assim, os direcionadores podem ser combinados em múltiplos casos de uso, tais como:  

  1. Venda de gás nacional firme, com carregamento de entrada pela comercializadora e carregamento de saída pela CDL (companhia distribuidora local). 
  2.  Venda de biometano para cliente livre com injeção na distribuição. 

 

Aprofundando-se nos cenários contratuais e regulatórios de cada um desses casos de uso, é possível projetar a nova operação. Isso inclui estabelecer quais são as prioridades imediatas (casos de uso com contratos já firmados) e as prioridades futuras, onde a comercializadora precisará desenvolver um plano de estruturação operacional e comercial. 

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Modelo operacional conceitual de comercialização de gás natural

Com o modelo operacional definido, o próximo passo é criar o modelo de riscos. Esse modelo facilita a identificação, avaliação e mitigação dos vetores de complexidade da operação, além de revelar oportunidades de atuação. 

Esses modelos incluem a identificação e gestão da exposição atual, definição da exposição alvo e do plano de ação, além de simulação dos cenários de mercado, estimativa de retorno, definição do risco potencial da operação a partir de diferentes métodos analíticos. 

Após solidificar os modelos operacional e de riscos, é vital que a comercializadora examine e refine sua estratégia comercial. Para isso, são realizadas diversas análises e simulações das várias facetas comerciais, considerando penalidades, custos, tarifas e outros termos contratuais com os diversos agentes do setor de gás natural. Este processo fornece diretrizes práticas para otimizar a exposição financeira e maximizar a rentabilidade da organização. 

Depois do desenho dos modelos operacional, de riscos e da avaliação comercial, a próxima fase envolve identificar as soluções tecnológicas e analíticas necessárias para sustentar a operação. Dependendo do nível de maturidade da organização em relação a essas soluções, é essencial determinar quais devem ser transitórias e quais definitivas. Com uma visão clara das soluções e a aplicação dos conceitos da “Pace Layered Architecture”, é possível esboçar, em alto nível, o design das soluções que apoiarão a operação. 

Aqui, o stack tecnológico inclui as ferramentas que suportam: definição de interfaces de comunicação, serviços conceituais da operação de comercialização de gás natural (gestão de demandas e ofertas), gestor e executor de contas a pagar e a receber (ERP), etc.  

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Finalmente, todas as soluções são especificadas, desenvolvidas, homologadas e disponibilizadas para os usuários da organização, garantindo que a comercializadora esteja bem equipada para enfrentar o ambiente dinâmico e complexo do setor de gás natural. 

Conclusão: ferramenta para uma visão de futuro do mercado de gás

A abordagem Future Proof Operations traz direcionamentos comerciais e operacionais para as companhias que buscam se adaptar e prosperar no dinâmico ambiente do mercado de gás brasileiro, a partir da identificação e caracterização dos casos de uso e dos diferentes direcionadores de complexidade do negócio.  

A discussão de arquitetura de tecnologia se mostra tão importante quanto a discussão de modelos operacionais, comerciais e de riscos alinhados com o posicionamento estratégico da empresa. Ao adotar esta abordagem estratégica as comercializadoras, transportadoras e distribuidoras de gás natural estarão aptas a estabelecer um modelo operacional robusto e altamente adaptável, sendo capazes de atender suas prioridades de curto prazo e às evoluções necessárias para o médio e longo prazo. 

Com o olhar para o futuro, é visível o potencial de evolução do mercado de gás e o surgimento de novos desafios relacionados ao crescimento. No entanto, com a abordagem correta, as empresas podem se preparar para essas mudanças e garantir o sucesso no longo prazo. Dessa forma, recomenda-se que os atores emergentes do novo mercado de gás brasileiro considerem a abordagem do Future Proof Operations como um componente essencial de sua estratégia de negócios. 

Quer saber mais a fundo sobre a metodologia Future Proof Operations e como ela pode ser aplicada ao seu negócio? 

THIAGO FUKAMATI é partner e diretor-executivo na EloGroup.

ALVARO OLIVEIRA é gerente sênior na EloGroup.

CAIO MOURA é gerente na EloGroup.

LUCAS FONSECA é consultor sênior na EloGroup.

LUIZ POLOZZI é consultor na EloGroup.

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