Por EloInsights
Jaime Frenkel, diretor-executivo de Inovação na EloGroup, fala sobre inovar na prática em entrevista à EloInsights.
Ele apresenta a nova temporada do Innovation Lab, podcast da EloGroup que deixa o glamour de lado para abordar inovação com foco em crescimento e transformação.
O primeiro episódio tem como convidado Caspar van Rijnbach, head de TI e Transformação Digital na Bayer Brasil.
Na visão de Jaime Frenkel, diretor-executivo de Inovação da EloGroup, o ano de 2022 será crucial para as organizações que investiram em inovação nos últimos anos: de um lado, aquelas que ficaram “perdidas”, apostando em programas descolados de resultados concretos, mais voltados para serem “compartilhados no Linkedin”. Do outro, aquelas que trilharam o caminho árduo da inovação com método e disciplina, e começam agora a colher os frutos de seus esforços, com resultados de negócios palpáveis. Nas palavras de Jaime, será a “separação do joio e do trigo”.
“Essa dicotomia entre ‘preciso fazer alguma coisa porque todo mundo está mostrando, mas não sei como’ leva as empresas a fazerem um monte de coisas, programas, hackatons, posts em redes sociais, que não se convertem em resultado concreto”, diz Jaime. “A gente vê várias organizações presas nessa armadilha. Do querer mostrar que estão fazendo sem saber o que precisa ser feito nem como.”
O especialista em inovação falou à EloInsights sobre esses e outros assuntos, às vésperas do lançamento da nova temporada do Innovation Lab, o podcast da EloGroup sobre inovação na prática, que estreia dia 12 de janeiro, com Jaime na condução dos episódios. A primeira edição trará uma conversa com Caspar van Rijnbach, head de TI e Transformação Digital na Bayer Brasil. Ele lidera o pilar Open Innovation e o LifeHub da empresa em São Paulo, um hub de inovação que é uma referência global.
Confira, a seguir, a entrevista completa.
Qual o papel do podcast Innovation Lab?
Jaime Frenkel: O trabalho com inovação tem um lado sexy, que todo mundo quer trabalhar. Mas, na prática, a realidade é muito diferente. Trabalhar com inovação é um pouco aquela frase do Rocky Balboa de não ser sobre o quão forte você bate, mas o quão forte você consegue apanhar e seguir em frente. No mercado, temos pessoas que entenderam isso e fazem um trabalho incrível. Que apanharam muito e, apesar disso, seguem em frente e aprendem. E assim têm uma experiência incrível para compartilhar. Mas tem também muita espuma no mercado. O papel do Innovation Lab é contar um pouco essa primeira realidade.
Outro ponto é que a gente queria trazer isso com uma diversidade muito grande. Não olhar apenas para executivos que estão fazendo inovação em grandes empresas, mas mostrar as várias perspectivas. A gente conseguiu trazer executivos como o Rodrigo Lemos, um profissional da operação de petróleo e gás, que teve a coragem de deixar o papel de VP de operações para virar VP de novos negócios com um time muito menor e uma expectativa de criação de valor muito grande para a empresa. Imagina o desafio que é isso.
A gente falou também com a Nádia Armelin, que já vestiu vários chapéus, desde executiva de empresa a empreendedora, e agora no mercado de investimentos dentro do setor da saúde. Falamos com o Caspar van Rijinbach, que comanda o LifeHub da Bayer em São Paulo. João Lopes, que investiu no primeiro unicórnio no Brasil, num momento em que tem tantas empresas querendo falar sobre CVC. Com ele conseguimos pegar a experiência daquilo que dá certo, daquilo que não dá certo, quais são as dicas da trincheira para garantir que quem deseja fazer esse tipo de investimento faça dar certo.
Então esse foi o grande aprendizado. Como é que a gente consegue olhar para a prática, para as dores. Deixar o glamour um pouco de lado, mas sem perder a importância de ter essa visão ambiciosa de crescimento e transformação que é o DNA da inovação. Trazer a disciplina que você precisa para fazer as coisas acontecerem. Esse foi muito o teor das entrevistas, trazendo as histórias das pessoas que estão por trás dos negócios. Para o nosso ouvinte, a nossa expectativa é trazer as ideias dessas pessoas que estão fazendo acontecer. Inspirar outras pessoas a botar a mão na massa e seguir esse caminho disciplinado e duro, mas que leva à construção de coisas incríveis.
Durante os episódios foi falado muito sobre inovar na prática. Você sente que hoje essa discussão está mais madura? Qual a importância dela?
Hoje tem duas coisas acontecendo. Tem uma primeira onda que é a vontade de mostrar que está inovando. Isso está super espalhado em várias empresas. Essa onda gera um certo “efeito Instagram”. Todo mundo pega uma coisa que fez, joga no LinkedIn para gerar uma reverberação. O executivo olha e pensa “todas as outras empresas estão inovando, preciso fazer algo também senão vou ficar para trás”. Mas tem muito pouca crítica em relação a isso. Qual o valor concreto que está sendo gerado? Acho que esse é um ponto.
Aí quando a gente vai para a discussão da prática, tem um desafio grande que é: a disciplina de inovação é muito diferente de tocar o dia a dia de uma operação. É uma disciplina voltada para aumentar a variabilidade, gerar um monte de ideias, experimentar, estar confortável em saber que no início de uma iniciativa você não sabe o que a solução vai gerar. Estar confortável em abrir ideias e compartilhar com o ecossistema os seus desafios. Esse é um paradigma de gestão muito diferente do paradigma tradicional. Muitas vezes isso gera uma série de travas nas organizações.
Quando trava, o que acontece é que muitas vezes não foi alinhado como a inovação iria acontecer. Sequer foi alinhado o que é inovação para a empresa. Essa dicotomia entre “preciso fazer alguma coisa porque todo mundo está mostrando, mas não sei como”, leva as empresas a fazerem um monte de coisas, programas, hackatons, posts em redes sociais, que não se convertem em resultado concreto. A gente vê várias organizações presas nessa armadilha. Do querer mostrar que estão fazendo sem saber o que precisa ser feito nem como.
Por outro lado, tem um número cada vez maior de empresas que estão estudando, aprendendo sobre o assunto. Empresas que estão conseguindo fazer essa conexão, que não tinham essa competência, mas a estão formando e trazendo pra frente. Uma coisa que a gente tem sentido muito no mercado de consultoria é que, há cinco anos, a gente via muito menos disposição das empresas em aprender o que é preciso. Em fazer o dever de casa para serem capazes de inovar direito. Inovação como processo e disciplina, botar isso em prática com a visão de que não é um processo a curto prazo, mas a médio e longo prazo. A gente vê um número cada vez maior de empresas que fizeram esse caminho de estudar e se aprofundar e agora começam a gerar resultados mais concretos.
No âmbito da inovação, como está essa questão da preparação das empresas neste começo de 2022? Em relação ao amadurecimento delas.
Acho que 2022 vai ser o ano em que a gente vai ver muito forte a separação do joio e do trigo. Isso já começou a acontecer em 2021. Clientes nossos, por exemplo, fizeram um esforço para entrar na discussão de plataformas digitais, diversificando negócios, e isso já começou a gerar resultados. Em 2022, vai ser maior ainda.
As empresas que ficaram perdidas vão ver que não geraram resultado concreto, mas o cara do lado, em vez de postar sobre hackaton, vai estar falando para os acionistas que o business novo está gerando muito resultado. A gente vai começar a ver uma aceleração. E isso vai chacoalhar muitas empresas. Porque de um lado você vai ter um líder que fala da importância da inovação, mas que não mostra resultado, enquanto o outro mostra. Isso pode ser uma ruptura grande. Quem está fazendo a lição de casa, está fazendo há um certo tempo. Isso demora a gerar impacto. Agora esse impacto começa a ganhar escala.
Quais suas percepções sobre o ecossistema de startups brasileiro?
É inegável que o ecossistema está muito amadurecido. A definição de unicórnio é muito subjetiva, mas dizem que em 2018 não havia nenhum unicórnio do Brasil e hoje temos vários. O que está muito claro é que cada vez mais você tem um ecossistema mais maduro com empreendedores mais preparados para gerar impacto e construir os unicórnios que crescem e viram grandes empresas.
O caso do Nubank, por exemplo, eles já fizeram IPO e já são o banco mais valioso da América Latina. Não é mais uma promessa. É uma realidade. Cada vez mais você tem empreendedores preparados pra fazer coisas de muito impacto e transformar indústrias de uma forma que antes você não esperaria. Nenhum executivo de um grande banco há 10 anos imaginaria que seria possível que o Nubank o ultrapassasse.
Por outro lado, isso gera um FOMO, fear of missing out, e uma enxurrada de dinheiro. E tem outras questões como a do dólar valorizado, países desenvolvidos com taxas de juros negativas, que têm gerado um afluxo de investimento muito grande no Brasil. E quando você aumenta a oferta de capital você acaba não tendo capacidade de achar investimentos tão bons assim. Então começa a ter uma série de startups e investimentos que são aventuras, também. Provavelmente sem estrutura e sem empreendedores com a experiência necessária para fazer dar certo.
A gente tem essas duas coisas. O amadurecimento, que é você ter empreendedores preparados para gerar um grande impacto. E não dá para ignorar isso, não dá para ficar de fora. Por outro lado, também não dá para entrar nesse jogo desavisado, senão você vai fazer besteira e pegar rebarba. Ou seja, pegar os empreendedores que não sabem o que estão fazendo, mesmo com muita capacidade de atrair dinheiro.
Você tem os fundos com estratégia spray and pray [a prática de pulverizar investimentos para várias startups e rezar para que uma se torne um unicórnio], que é você investir em um monte de coisa porque uma outra coisa não vai dar certo. E não é uma estratégia errada, é uma estratégia super válida, porque uma coisa ou outra vai dar certo e vai crescer muito. Você precisa entrar nesse jogo com uma estratégia clara de como você quer jogar. E aí tem muita empresa que quer fazer investimento de uma forma mais desavisada e isso pode, depois, entrar no contexto de você ser o joio e não o trigo. Você vai estar do lado errado da história.
Alguma inovação ou história surpreendeu de forma especial em meio aos episódios dessa temporada?
A gente vai ser cada vez menos surpreendido pelas possibilidades. Quais são as surpresas que veremos? A surpresa do Nubank não é o fato de ser um banco digital, porque isso é um conceito já esperado. É um banco digital que já existe há vários anos. A surpresa é o Nubank ser o banco mais valioso da América Latina!
A surpresa não é ter gente estudando IA para analisar se o pulmão de alguém tem ou não tem sinais de Covid-19. A surpresa é você chegar em um hospital e descobrir que o laudo foi feito por um computador junto com um médico. E, um dia, será feito pelo computador e sem um médico. A surpresa está em ver o que estava incubado e discutido virando realidade.
O nosso podcast fala mais da última milha, de levar a inovação para o mercado e fazer a transformação acontecer. É menos sobre você ser capaz de usar inteligência artificial e mais sobre como você usou isso na sua trajetória. Por exemplo, três jovens que saíram de empresas e fizeram a Gupy virar o que virou: uma empresa que vale dezenas de milhões de reais em pouquíssimo tempo.
Ao longo das entrevistas e da sua experiência, qual a dor recorrente na jornada pela inovação?
A gente falou com atores diferentes e aí eles trazem dores diferentes. A dor do executivo é o fato de você ter que ser capaz de mover um “cargueiro”, mover um “petroleiro” com toda uma inércia ali na forma de fazer as coisas.
A maneira de conduzir faz com que o timing para as ideias virarem realidade seja muito mais longo, e que o caminho tenha muito mais dores e dificuldades do que se estivesse em uma startup. Por outro lado, ele tem acesso a recursos que uma startup não tem. E aí é como ele organiza esse quebra-cabeça de aproveitar as alavancas da empresa, mas não deixar que as âncoras impeçam que as coisas aconteçam. Para isso ele precisa engajar as pessoas, pregar no deserto um pouco e fazer as pessoas ouvirem. Essa é uma dor específica.
Agora, do lado do investimento, a grande dor ali – e acho que isso já é naturalizado para os investidores mais qualificados –, é a incerteza. Você vai fazer um monte de investimento. A cada dez, 3 ou 4 você vai jogar fora do portfólio, outros 3 ou 4 você vai andar de lado e somente 1 ou 2 que vão gerar um retorno para pagar todo o resto. É conviver com essa incerteza.
Já a dor do empreendedor é que, na maior parte das vezes, dá errado. E, apesar de dar errado, você precisa redirecionar, recombinar e continuar avançando. É o ponto central nesse caso.
Nas gravações do podcast você recebeu muitas dicas, sugestões de livros e estudos sobre inovação na prática. Tem alguma que você destacaria?
O mais engraçado é que as pessoas acabam recomendando os clássicos. O pessoal que faz a coisa acontecer não recomenda um livro que foi lançado este ano. E não que não seja importante, tem que estar antenado, porque tem muita coisa legal surgindo.
No entanto, se você não entender, por exemplo, o mecanismo de disrupção do Clayton Christensen, você não vai entender muita coisa importante para fazer acontecer. Se não tiver na cabeça o que é um conceito de modelo de negócio, que o Alexander Osterwalder escreveu em Business Model Generation, lá em 2007, você não vai conseguir entender uma série de coisas muito importantes hoje em dia. A surpresa é essa: mesmo as pessoas que estão na ponta voltam para os clássicos.