Por Lucas de Vivo e Marcus Couto
- Entrevista com Uwe Michel, sócio da consultoria alemã Horváth, destaca alguns dos principais desafios na implementação de projetos de IA em empresas.
- Michel destaca que há falta de gestão da mudança, baixa aceitação interna e até uma certa resistência cultural à IA, o que desacelera o ritmo de adoção.
- Ele traz ainda uma prévia do próximo estudo de prioridades de CxOs globais da Horváth.
A introdução de tecnologias de Inteligência Artificial, tanto generativa quanto analítica, segue avançando sobre as organizações pelo mundo todo em alta velocidade, redefinindo fluxos de trabalho, o conjunto de habilidades exigido de talentos em diferentes carreiras, além do papel do próprio CEO e liderança sênior em relação à governança dessa implementação.
Apesar de, segundo pesquisa global publicada em março de 2025, apenas 1% dos executivos descreverem seus roll-outs de GenAI como “maduros”, 78% das empresas já usam alguma forma de IA (analítica ou generativa) em pelo menos uma função de negócio, contra 72% no início de 2024 e 55% em 2023.
Em outras palavras, apesar de haver ainda uma trajetória rumo à maturidade, a IA já vem transformando fluxos de trabalho e estruturas de governança de forma significativa dentro das organizações. Esse panorama ecoa nas percepções trazidas por Uwe Michel, sócio da consultoria alemã Horváth e Chairman do Board da Cordence Worldwide, em sua entrevista a EloInsights durante o Cordence Executive Meeting.
No evento, realizado entre os dias 6 e 7 de maio de 2025, no Rio de Janeiro, cerca de 20 executivos líderes de 9 consultorias globais de gestão se reuniram para trocar experiências e visões de futuro com objetivo de trazer ainda mais robustez técnica, metodológica e estratégica para a aliança — e, consequentemente, para os nossos clientes.
Na ocasião, Michel falou sobre suas percepções em relação ao impacto da IA no setor de consultoria e nos negócios em geral, sobre as resistências culturais que essa tecnologia por vezes enfrenta, e também deu “spoilers” sobre a próxima edição do estudo anual da Horváth sobre as prioridades dos CxOs globais. Confira a conversa completa abaixo.
EloInsights: Qual a importância de um evento como o Cordence Executive Meeting realizado pela EloGroup no Rio de Janeiro?
Uwe Michel: A importância está nas pessoas. O essencial é o encontro presencial entre os representantes das empresas-membro da Cordence Worldwide, fortalecendo contatos existentes e estabelecendo novas conexões, especialmente com os novos membros presentes neste encontro executivo. É uma oportunidade de alimentar a rede e construir confiança para colaborações futuras.
Na sua percepção, quais são os principais vetores de transformação do mercado de consultoria atualmente?
É uma grande pergunta, mas com uma resposta direta: tecnologia, especialmente a Inteligência Artificial. A IA tende a substituir atividades tradicionalmente realizadas por consultores humanos. As consultorias que conseguirem aplicar a tecnologia de forma diferenciada aumentarão sua competitividade e sairão na frente.
Com isso, veremos uma aceleração da consolidação do setor. Muitas empresas, principalmente as menores, podem desaparecer. O cenário previsto no artigo “Consulting on the Cusp of Disruption“, de 2013, ainda não se concretizou plenamente, mas está prestes a acontecer. [O artigo, publicado na Harvard Business Review em 2013 por Clayton Christensen, Dina Wang e Derek van Bever, aplica a teoria da inovação disruptiva ao setor de consultoria de gestão. Os autores argumentavam que esse mercado estava à beira de uma grande transformação com a entrada de novos players com ofertas mais acessíveis, apoiadas por novas tecnologias. Agora, com a IA generativa, a ideia é que essa tendência se acentue ainda mais.]
O que os estudos da Horváth nos contam sobre o atual estado das implementações de capacidades de Inteligência Artificial nas empresas?
A IA ganhou ainda mais força desde a edição anterior do estudo da Horváth. O que observamos agora é as empresas deixando para trás a fase de testes e de pilotos, e partindo para implementações mais abrangentes. Porém, o maior desafio não é tecnológico, e sim organizacional: há falta de gestão da mudança, baixa aceitação interna e até uma certa resistência cultural à IA, o que desacelera o ritmo de adoção.
O que podemos esperar da próxima edição do estudo anual de prioridades dos CxOs globais? Pode nos dar algum spoiler?
O estudo ainda está em fase de coleta, mas alguns sinais já começam a aparecer. No curto prazo, vemos que as empresas estão mais “testadas por crises”. Mesmo diante de eventos geopolíticos como as disputas nos EUA ou conflitos no Oriente Médio, elas não mudam radicalmente sua direção estratégica, mas usam os eventos como impulso para ajustar a rota e seguir em frente.
No longo prazo, nota-se uma mudança de foco: as empresas deixaram de olhar exclusivamente para megatendências e passaram a investir em suas próprias fortalezas internas, como resiliência, eficiência, gestão de pessoas e liderança.
E como foi recebida a edição anterior do estudo? Qual seu impacto no mercado?
A edição passada foi um grande sucesso. Foram mais de 750 entrevistas realizadas, que resultaram em mais de 50 publicações em revistas especializadas e mais de 600 menções em outros veículos de mídia e TV. Nas redes sociais, o alcance também foi expressivo.
Esses dados nos permitiram iniciar diálogos valiosos com clientes e, a partir disso, desencadear novos projetos. O estudo se tornou uma ferramenta poderosa de relacionamento e geração de negócios para a Horváth.
LUCAS DE VIVO é Redator de EloInsights
MARCUS COUTO é Editor de EloInsights