Por EloInsights, com colaboração de Lays Lobato
Na nova economia, excelência operacional e capacidade de inovar precisam estar intimamente ligadas a um forte senso de propósito, que pode ser alavancado por práticas consistentes de ESG.
Cultivar práticas ESG significa agir com responsabilidade em relação ao meio ambiente, às causas sociais e à governança de corporações. Se relaciona, principalmente, com a criação e sustentação de valor a longo prazo.
Destacamos quatro alavancas que materializam a potência e os ganhos gerados com a manutenção de um solo fértil para ações ESG: reputação de marca, redução de riscos e custos, oportunidades de negócio, cultura e valor intrínsecos.
Parte importante do novo paradigma da gestão está em integrar excelência operacional, inovação e um forte senso de propósito capaz de amarrar tudo isso ao engajamento de colaboradores, conselheiros, fornecedores, consumidores e da sociedade em geral. Nesse contexto, o tema de ESG [Environmental, Social and Corporate Governance] se destaca à medida que ganham terreno as empresas que agem com responsabilidade em relação ao meio ambiente, à sociedade e à própria gestão. Consumidores, gestores, acionistas e fundos de investimento passam a direcionar recursos e atenções a quem cultiva práticas ESG. Plantar essas sementes demonstra, sobretudo, a capacidade de criar e sustentar valor a longo prazo gerenciando os riscos e aproveitando oportunidades associadas às transformações ambientais, sociais e econômicas, vigentes e previstas.
Vários contextos e atores contribuem para tornar esse movimento necessário e possível para as empresas. É reflexo dos anseios de uma nova geração que reconhece sua diversidade e a desigualdade social que assola inúmeras comunidades. É composta por indivíduos pautados fortemente por uma lógica de consumo consciente, pela preservação de recursos naturais e pelos alertas sobre mudanças climáticas
Florescem linhas de crédito e estruturas para o financiamento de negócios e iniciativas de impacto socioambiental, e cada vez mais gestores de fundos dão importância às questões ESG. Em 2020, US$ 30 trilhões já eram geridos em fundos com estratégias sustentáveis, sendo 50% nos EUA e 25% na Europa. Em 2021, a emissão total de títulos sustentáveis em todo mundo bateu recorde histórico, ultrapassando US$ 1 trilhão pela primeira vez. Em relação a 2020, foi um aumento de 45%. Fazendo um recorte dos green bonds – ou os títulos verdes que financiam projetos voltados ao meio ambiente, foram US$ 488,8 bilhões emitidos – praticamente o dobro do nível de 2020.
Áreas de inovação, pesquisa e desenvolvimento apostam em produtos e serviços para atender a mercados desamparados, ainda que isso signifique, em um primeiro momento, causar uma redução na lucratividade. Grandes corporações passam a trabalhar visando impactar positivamente toda a cadeia de produção, com causas definidas, destinando com responsabilidade os lucros gerados, selecionando rigorosamente os fornecedores e promovendo diversidade e inclusão.
Para além desses movimentos, a pandemia redefiniu o panorama mundial nos últimos anos com crises profundas não apenas pelo colapso dos sistemas de saúde, mas também pela parte econômica – com aumento do desemprego e uma esteira de problemas sociais. Consolidou-se a noção de que solucionar problemas crônicos passa por reinventar os modelos de cooperação. Só é possível entregar uma transformação real – em escala, velocidade e geração máxima de impacto – com o desenvolvimento de capacidades, colaboração intersetorial e parceria público-privada entre empresas, governos, organização civil e academia.
Mais que o direcionamento de verbas, esse novo modelo requer a criação de redes e laços. As ações ganham contorno e propósito quando há uma real aproximação das organizações com territórios, temáticas e pessoas atendidas. É preciso desenvolver uma escuta ativa por parte das áreas de relacionamento governamental e de responsabilidade social das empresas para perenizar resultados, moldando capacidades em uma construção colaborativa entre equipes técnicas e beneficiados.
A exigência é que se olhe com seriedade para as mudanças que estamos vivendo e como podemos contribuir, como indivíduos ou como organizações, na construção de um mundo melhor. Só é possível colher frutos das sementes plantadas com um cuidado contínuo com o solo, e a melhor estratégia é conectar as ações ESG com alavancas que enraízem e sustentem relações saudáveis a longo prazo.
Quatro principais alavancas ESG
Avançamos muito ao longo dos últimos anos. Hoje é possível ter uma compreensão mais ampla da necessidade de a temática ESG estar intrinsicamente ligada às atividades de toda e qualquer organização, mas ainda é muito difícil tangibilizar o valor gerado pela adoção dessas práticas. Precisamos avançar na construção de métricas e sistemas que monetizem de forma transparente a enorme correlação que existe entre o desempenho financeiro e o não financeiro das organizações. Ou seja, das externalidades e impactos gerados positiva ou negativamente por elas, também, na esfera ambiental e social.
Para além desse desafio, os aspectos ESG abarcam temáticas diversas e têm um centro de gravidade e relevância diferente para cada negócio, tornando inviável uma abordagem rígida e única. Neste contexto, nossa missão, enquanto consultoria de transformação – que se apoia na integração de Technology, Analytics e Management – com atuação intersetorial em variadas indústrias, é apoiar nossos clientes na construção e análise de suas matrizes de materialidade e visão de futuro para desenhar ações que impulsionem um maior potencial de captura de valor em médio e longo prazo, sobretudo, considerando os riscos e oportunidades de negócio.
A fim de exercitar as nossas lentes ESG, nomeamos aqui quatro alavancas que geralmente utilizamos para guiar as discussões de sustentabilidade dentro das organizações:
1. Reputação corporativa
A geração de valor sob a perspectiva de reputação corporativa traz impactos relevantes e que podem reverberar na atração de novos clientes, parceiros de negócio, fornecedores e investidores. O que, por sua vez, gera aumento potencial de receitas, de impacto e da escala de produtos, programas e serviços. Para além destas questões, uma boa reputação corporativa favorece relações institucionais com a sociedade e governos, podendo ser crucial na manutenção e expansão da operação de empresas em localidades estratégicas.
Importante ressaltar que ações que acionam as alavancas ESG podem ter a finalidade de gerar impacto positivo ou mitigar impactos negativos.
Contudo, focar em impactos positivos é muito mais contundente para alavancar a imagem de uma corporação. É o caso do braço social de uma holding brasileira que incentiva seu conglomerado a se engajar na criação de um fundo de apoio à saúde. A cada R$ 1 investido pelas empresas do grupo – atuantes em variados setores: do agronegócio à produção de cimento até energia, o instituto aporta mais R$ 1. Assim, é possível financiar mais projetos, alcançar mais territórios, transformar a realidade de muitas pessoas e ainda consolidar e lapidar a relação com diferentes comunidades.
2. Redução de riscos e custos
A redução de riscos e custos conecta a adoção de práticas de ESG à amortização de multas e penalidades, uma vez que, consequentemente, entra em sintonia com o cumprimento de protocolos e legislações.
Mudar a planta de uma fábrica visando o uso consciente de recursos naturais como água e energia, ao mesmo tempo que reduz gastos de forma geral, beneficia o meio ambiente. O mesmo ocorre com indústrias que investem na destinação de resíduos, o que pode trazer uma economia adicional na aquisição de insumos e matéria-prima.
3. Oportunidades de negócio
Outra alavanca importante está na identificação de novos mercados, clientes, produtos, serviços e fluxos de receita. Este é o sweet spot que todas as organizações gostariam de estar, o quadrante da matriz onde conceitualmente temos o shared value, onde os desafios socioambientais são também uma oportunidade de negócio.
Por exemplo, um aplicativo de entrega de comida atentou-se ao volume de descartáveis gerados, sobretudo no contexto da pandemia. Em sua ampla rede de distribuidores de alimentos, muitos não têm porte razoável para comprar descartáveis biodegradáveis. A solução foi criar uma linha de negócio para fornecer esses materiais a custo acessível.
Essa alavanca se relaciona tanto à adaptação de modelos de negócios e às mudanças ambientais e regulatórias – gerando vantagem competitiva no mercado a longo prazo – quanto ao maior acesso a recursos, fundos de investimento e subsídios.
4. Cultura e valor intrínsecos
ESG é uma das grandes temáticas da geração Z, que valoriza a pluralidade de vivências e o bem comum, com especial preocupação pelas condições do planeta. Por isso, essa alavanca se relaciona à atração e retenção de talentos, clientes e investidores à medida que a sua empresa tem valores bem definidos, trabalha a noção de propósito, se engaja na preservação do meio ambiente e busca meios de amenizar as desigualdades.
Várias pesquisas mostram o aumento de produtividade e engajamento quando são criados um grupo ou um programa estruturado de voluntariado que possibilitem o contato próximo com comunidades e áreas de influência das grandes corporações. Além de se enquadrar em uma lógica de resiliência e identificação, já que o foco é no médio e longo prazo.
Em uma visão mais ampla, as alavancas podem ser trabalhadas de forma concomitante, uma ação pode acionar mais de uma alavanca ESG e assim ampliar o resultado e a abrangência do impacto. Além disso, no que tange ao espectro de impacto – de local à sociedade – pode-se, primeiramente, mudar a empresa, investindo posteriormente em uma ação de impacto para toda a cadeia, ou ainda, já começar de uma forma mais holística e integral, contemplando toda a sociedade. A força e abrangência das ações dependem da maturidade e capacidade de cada organização. O importante é se mover em direção à sustentabilidade. Mais do que nunca, é hora de dar um passo adiante ou sair do caminho.
Conexão para o futuro dos negócios
A essência de novos modelos de gente e gestão une dois mundos: excelência operacional e inovação, ambas direcionadas por um forte senso de propósito. Essa combinação tem uma ligação direta com a promoção do ESG nas grandes corporações interessadas em sobreviver na transição para o futuro, na regeneração do capitalismo.
Mudar o mindset para este novo mundo, onde só sobrevive quem foca na sustentabilidade das ações, é se colocar como parte da sociedade, valorizar as pessoas e pensar no bem comum desta e das próximas gerações
LAYS LOBATO é sócia-diretora da EloGroup.